domingo, 18 de setembro de 2011

Acessibilidade web: 7 mitos e um equívoco*

 "Uma característica dos mitos modernos é que, ao contrário dos mitos gregos ou indígenas, eles não se referem à totalidade da existência humana, mas a temas específicos, como a sensualidade, a juventude, o corpo saudável, o poder, etc. E, como sua base inconsciente não está na razão e sim na emoção, eles são largamente utilizados na propaganda e na política".

Mito I - "Acessibilidade Web é só para deficientes visuais."

Realidade: Pessoas cegas ou com baixa visão são terrivelmente prejudicadas pela falta de acessibilidade, pois, na maioria das vezes, elas não têm outra forma de obter a informação, a não ser através da internet. Mas não são elas as únicas que necessitam de acessibilidade.

Acessibilidade web é para...

    ... Quem tem dificuldade para
        ver a tela,
        usar o mouse,
        usar o teclado,
        ler um texto,
        Ouvir um som,
        navegar na internet;
    ... Quem usa um navegador diferente;
    ... Quem usa um equipamento muito antigo;
    ... Quem usa um equipamento muito moderno;
    ... Quem tem uma linha de transmissão muito lenta;
    ... Quem está num ambiente ou situação que limita alguns dos seus sentidos ou movimentos, ou que requer a sua atenção.

Enfim, acessibilidade web é para todos!


Temor oculto: "Imagina o trabalhão que vai dar, fazer acessibilidade para todo mundo!"

Esclarecimento: Quando seguimos uma diretriz de acessibilidade, estamos atendendo simultaneamente a vários tipos de necessidades. Por exemplo, atender a três tipos de deficiências não significa trabalho triplicado.
 Note-se que este mito está tão profundamente arraigado em nossa cultura, a ponto de aparecer expressamente no Decreto 5296, o qual estabelece, em seu Artigo 47, que "No prazo de até doze meses a contar da data de publicação deste Decreto, será obrigatória a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores (internet), para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis."

Mito II - "Na prática, o número de usuários beneficiados com a acessibilidade é relativamente muito pequeno."

Realidade: A maioria das pessoas que conhecemos não tem nenhuma deficiência e nunca esteve em nenhuma das situações especiais descritas acima. Mas isso não quer dizer rigorosamente nada a respeito da quantidade dessas pessoas e situações. Por exemplo, quantos tailandeses você conhece que usam a internet? Será que você poderia concluir, então, que são muito poucos os tailandeses que usam a internet? Nossa visão da realidade é sempre distorcida, pois tendemos a nos aproximar e conhecer somente aquilo que nos é semelhante.

Temor oculto: "Esse negócio de acessibilidade é muito investimento para pouco retorno."

Esclarecimento: Quando tornamos o nosso site acessível, além de atingirmos os usuários da internet que não nos podiam acessar devido às barreiras encontradas, também estamos criando condições para que novas pessoas se animem a usar a internet; ou seja, estamos ampliando o nosso mercado. Além disso, estamos aumentando a visibilidade do site para os buscadores web, pois, assim como as pessoas cegas, eles também só conseguem ler o que está em texto.

Mito III - "Fazer um site acessível demora e custa caro."

Realidade: Geralmente, afirmações como esta são proferidas sem nenhuma avaliação prévia. Contudo, só podemos saber se o tempo e o custo do nosso projeto são adequados, se levarmos em conta os benefícios alcançados.

Temor oculto: “Não estarei empregando mal os recursos que tenho, ao fazer acessibilidade? Não vou ficar no prejuízo?”

Esclarecimento: Quebrar todas as escadas de um prédio para colocar rampas e todos os banheiros para torná-los acessíveis vai demandar um tempo e um custo adicionais; mas vai permitir o acesso por muito mais pessoas. Porém, se o prédio fôr projetado com rampas e banheiros acessíveis, o custo e o tempo de construção não serão maiores por isso. O mesmo acontece com os sites. Algumas adaptações são trabalhosas, mas o resultado vale a pena; e quando se trata de um novo projeto, o custo adicional geralmente não existe.

Mito IV - "É melhor fazer uma página especial para os deficientes visuais."

Realidade: Isto é melhor para quem? Os webdesigners terão trabalho dobrado, para criação e manutenção de duas páginas. Os deficientes visuais ficarão prejudicados, pois o que invariavelmente acaba acontecendo é que a página deles fica desatualizada. Sem falar naquelas páginas especiais, que já são projetadas com menos funcionalidades do que a das "pessoas normais". Além disso, o site continuará inacessível para todos os outros tipos de deficiências, necessidades ou situações especiais.

Temor oculto: "A gente não vai conseguir fazer uma página acessível, que seja tão bonita e funcional como a nossa."

Esclarecimento: A partir de 1998, com a promulgação da Section 508 (lei americana de acessibilidade), as grandes empresas de software começaram a investir em acessibilidade. Atualmente, os recursos de acessibilidade disponíveis já nos permitem criar sites bonitos, funcionais e acessíveis. Obviamente, para se obter um bom resultado, a técnica de acessibilidade, como qualquer outra, precisa ser aprendida.

Mito V - "Um site acessível a deficientes visuais não é bonito."

Realidade: Pessoas cegas não têm condições de usufruir da maioria dos atributos visuais de um site. Porém, os elementos que tornam um site esteticamente bonito não atrapalham as pessoas cegas, se forem criados dentro dos padrões de codificação, das diretrizes de acessibilidade e se a página tiver uma boa arquitetura de informação.

Temor oculto: "Só sei fazer sites bonitos usando tecnologias inacessíveis; de fato, não sei exatamente quais são os elementos visuais que atrapalham a acessibilidade. Por isso, quando tenho que fazer um site acessível, faço sempre o arroz com feijão."

Esclarecimento: Sites acessíveis a deficientes visuais podem ter imagens, fotos, vídeos, gráficos, etc, etc... Basta observar os padrões de codificação e as diretrizes de acessibilidade; e nenhuma delas proibe essas coisas. Os testes com usuários, além de fazerem parte das boas práticas de um projeto, sempre ajudam a desmistificar essa questão.

Mito VI - "Vamos por partes: primeiro fazemos o site, depois fazemos acessibilidade."

Realidade: Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, precisamos priorizar. Porém, inaugurar o prédio com escadas e depois quebrar tudo para colocar rampas não é priorização, é desperdício de tempo e recursos. E é exatamente isto que acontece com um site, quando deixamos a acessibilidade para depois. Vamos ter que refazer muita coisa que já poderia ter sido feita com acessibilidade, sem custo adicional.

Temor oculto: "Não vamos conseguir fazer um site acessível, com o tempo, os recursos e a equipe que temos."

Esclarecimento: Como acontece com qualquer tecnologia, geralmente o primeiro projeto acessível demanda um tempo e um custo maior, porque precisamos de capacitar a equipe. Mas isto acontece apenas no primeiro projeto, além de ser um bom investimento em termos de ampliação do público alvo.

Mito VII - "A gente sabe o que é bom para o usuário."

Realidade: A gente aprende muito sobre o usuário com a experiência. Mas a gente só aprende tudo sobre o usuário, se a gente fôr o próprio usuário; ainda assim, agente vai ser apenas um dos vários tipos de usuários possíveis, deixando de fora todos os outros grupos.

Temor oculto: "Não quero expor meu projeto às críticas do usuário."

Esclarecimento: Quanto mais cedo os usuários puderem dar seus "palpites" no projeto, menos alterações ele precisará depois e mais robusto ele será. Não tenha medo!

Um Grande Equívoco.

Existe uma oitava assertiva, que não é exatamente um mito, nem se refere apenas à acessibilidade. Trata-se de uma convicção equivocada, proveniente da falta de conhecimento da repercussão da web, do seu impacto na vida das pessoas e na forma como a informação é veiculada nos dias de hoje. Apesar de não ser um mito, podemos detectá-la como um pensamento subjacente em quase todos os mitos descritos anteriormente. A assertiva é a seguinte:

"Meu site é direcionado a um público específico; ele não interessa a todos os grupos de usuários."

Para entendermos onde está o equívoco, precisamos analisar primeiro o que é "público específico" e o que são “grupos de usuários”.

Normalmente, quando falamos que o nosso site se Dirige a um público específico, estamos nos referindo ao conteúdo do site e estamos querendo dizer que tal conteúdo só tem interesse para uma determinada parcela do público em geral. Sabemos, por exemplo, que o público alvo de um site de notícias, ou de um serviço público, é muito diferente do público alvo de um site de tricot, ou de paleontologia. Contudo, isto é muito diferente do conceito de grupos de usuários, utilizado em acessibilidade e em usabilidade. Neste caso, estes grupos não se referem ao conteúdo da informação, mas às características de funcionalidade dos usuários. Muitas destas características foram descritas anteriormente, na análise do Mito I.

O equívoco acontece, quando associamos grupos de interesses a grupos de funcionalidades. A experiência nos mostra que esta associação é muito mais tênue do que parece. Vejamos alguns exemplos:

 Um homem com baixa visão que entra no site de um fabricante de automóveis, para escolher um modelo para a sua mãe.
Uma jóvem surda que entra numa loja virtual de CDs, para escolher um presente para o seu namorado.
Um menino de 11 anos que entra num site direcionado à terceira idade, para pegar uma informação para a sua avó.
Uma estudante cega que entra numa livraria virtual, para comprar livros que serão escaniados por ela própria e lidos com o seu programa leitor de telas.

Portanto, quando restringimos o acesso do nosso site ao que julgamos serem as características do seu público alvo, estamos, na prática, usando a internet para limitar o nosso público, ao invés de ampliá-lo.

Lêda Spelta

Referências na web.

*Texto de Lêda Lucia Spelta - Psicóloga formada pelo Instituto de Psicologia da UFRJ. Uma das primeiras pessoas com deficiência visual a trabalhar com informática no Rio de Janeiro, em 1974, foi programadora, analista de sistemas, analista de suporte e coordenadora de equipe, em diversas empresas públicas e privadas. Como membro da Comissão Brasileira do Braillelink para um novo site, coordenou a elaboração da Grafia Braille para a Informática, unificada para a língua portuguesa. Participa da Comissão de Estudos CE-04/CB-40/ABNT, que elabora proposta de normas técnicas sobre "Acessibilidade para a Inclusão Digital". É membro do Comitê de Ajudas Técnicaslink para um novo site.
Trabalha com acessibilidade desde 2001, como moderadora de lista de discussão, instrutora, consultora, autora de artigos e palestrante. Seus principais focos em acessibilidade são a sensibilização e a motivação de empresários e webdesigners, a avaliação de sites, o treinamento e a normatização.




sábado, 10 de setembro de 2011

Produção Científica sobre inclusão possui espaço na Feira do Livro


  http://www.uepa.br/paginas/eduepa/eduepa.htm
As publicações sobre inclusão lançadas na XV Feira Pan-Amazônica do Livro pela Editora da Universidade do Estado do Pará, a EDUEPA foram organizadas pelos professores: Ana Irene Alves de Oliveira, Rafael Luiz Morais da Silva e Danielle Alves Zaparoli.
Segundo a Profa. Dra. Ana Irene A. Oliveira, em sua fala no stand da EDUEPA, a inclusão social de pessoas com deficiência tem provocado intensos debates sobre a construção de uma sociedade efetivamente para todos. O princípio de respeito à diversidade e à igualdade de direitos nos serviços de saúde, educação, transporte, lazer, cultura, trabalho, dentre outras, alimenta cada vez mais a ideia de que se faz necessário não apenas adequar as estruturas dos ambientes, eliminando barreiras físicas, mas, também, estimular atitudes pessoais que oportunizem a participação social desse grupo.
Nesse sentido, diversos setores da sociedade civil, organizações governamentais e não-governamentais têm buscado, por meio de diversas medidas, introduzir ações que contemplem a garantia de direitos e o engajamento dessas pessoas nas mais diversas áreas da vida. Por isso, com a finalidade de buscar alternativas possíveis, muitos caminhos estão sendo trilhados, metodologias de ensino aplicadas, tecnologias implementadas para que se possa concretizar a participação, de fato, desse segmento na sociedade.
Resultado do intenso debate realizado no III Fórum de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social da Pessoa Deficiente e do II Seminário Nacional de Inclusão Social Mediado pelas Tecnologias Assistivas, ocorrido em Novembro de 2010, em Belém do Pará, os livros “A Quantas Anda a Inclusão?”, “Caminhos da inclusão” e “Inovação tecnológica e inclusão social”, reúnem trabalhos desenvolvidos por diversos pesquisadores e profissionais da área da educação, saúde e tecnologia, com o objetivo de compartilhar experiências na implementação de ações voltadas para a inclusão social de pessoas com deficiência.
                                            

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Autismo (2ª Parte)

2ª Parte: Dez coisas que qualquer criança com autismo gostaria que você soubesse:

6. Como linguagem é muito difícil para mim, eu me oriento muito pela visão. 
Por favor, mostre-me como fazer alguma coisa mais do que apenas falar comigo. E, por favor, também peço que esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições insistentes me ajudam a aprender.
Uma “agenda visual” é de grande ajuda ao longo do meu dia. Assim como a sua rotina, ela me salva do stress de precisar lembrar o que vem depois, ajudando-me a transitar mais suavemente entre as atividades, controlar meu tempo e atingir suas expectativas.
Eu não perco a necessidade de algo assim quando ficar mais velho, mas meu “nível de representação” pode mudar. Antes de poder ler, eu preciso de orientações visuais com fotografias ou desenhos simples. Na medida em que envelheço, uma combinação de imagens e palavras pode funcionar, e depois só as palavras.

7. Por favor, priorize e procure construir a partir do que eu posso fazer mais do que aquilo que não posso fazer. 
Como qualquer outro ser humano, eu não consigo aprender em um ambiente que constantemente me faz sentir que “eu não sou bom o bastante e preciso me corrigir”. Tentar qualquer coisa nova quando estou quase certo de que vou encontrar criticas, ainda que “construtivas”, se torna algo a ser evitado. Procure pelas minhas virtudes e você vai encontrá-las. Existe muito mais do que só um jeito “certo” para fazer a maioria das coisas.

8. Ajude-me nas interações sociais. 
Pode parecer que eu não queira brincar com as outras crianças no parquinho, mas algumas vezes o caso é que eu simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar numa brincadeira. Se você encorajar as outras crianças a me convidar para brincar de chutar bola, ou basquete, pode ser que eu fique muito feliz em estar incluído.
Eu participo melhor em atividades estruturadas com começo e fim claros. Eu não sei como “ler” expressões faciais, linguagem corporal ou emoções de outros, e seria muito bom ter auxilio para respostas sociais adequadas.  Por exemplo, se dou risada quando Emily cai no chão, não é porque achei isto engraçado, mas é que eu não sei a resposta apropriada. Ensine-me a perguntar “Você está bem?”.

9. Tente identificar o que inicia meus surtos.
 Surtos, ataques, explosões, ou seja lá como você queira chamar, são ainda mais horríveis para mim do que parecem a você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos se sobrecarregou. Se você conseguir descobrir o porquê de meus surtos acontecerem eles podem ser prevenidos. Faça anotações sobre as situações, horários, pessoas e atividades. Pode surgir um padrão.
Procure se lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Ele lhe mostra, quando minhas palavras não conseguem, como eu percebo algo que está acontecendo em meu ambiente.
Pais, mantenham isto em mente: Comportamentos que persistem podem ter uma causa médica associada. Alergia a comidas e sensibilidades, distúrbios do sono e problemas gastrointestinais podem ter profundos efeitos no comportamento.

10. Ama-me incondicionalmente.
 Elimine pensamentos como “Se ele ao menos…” e “Por que ela não consegue…”. Você não conseguiu corresponder a todas expectativas de seus pais e você não gostaria de ser, a todo momento, lembrado disto. Não escolhi ter autismo, mas isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda, minhas chances de sucesso e vida adulta independente são baixas. Com o seu apoio e orientação, as possibilidades são maiores do que imagina. Eu prometo a você, eu valho a pena.
E por ultimo, três palavras: Paciência, paciência e paciência. Procure enxergar meu autismo mais como uma habilidade diferente do que uma deficiência. Reveja o que você compreende como limitações e descubra as qualidades que o autismo me trouxe. É verdade que tenho dificuldade com contato visual e conversações, mas já percebeu que eu não minto, trapaceio, zombo de meus colegas ou julgo os outros? Também é verdade que provavelmente não serei o próximo Michael Jordan, mas com a minha atenção a detalhes finos e capacidade de foco intenso, posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh.
Eles podem ter tido autismo também.
As soluções para Alzheimer, o enigma da vida extraterrestres – quais tipos de conquistas futuras as crianças com autismo, como eu, possuem à frente?
Tudo no que posso me transformar não acontecerá sem você como minha base. Seja meu defensor, meu amigo e veremos o quão longe eu consigo caminhar.


Trecho traduzido do livro:
Ten Things Every Child With Autism Wishes You Knew.
By Ellen Notbohm 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Autismo (1ª Parte)

1ª Parte: Dez coisas que qualquer criança com autismo gostaria que você soubesse:

1. Mais importante e antes de tudo, eu sou uma criança. 
Meu autismo é apenas um aspecto de toda minha personalidade. Ele não me define enquanto pessoa. Você é alguém com pensamentos, sentimentos e muitos talentos, ou é, simplesmente, alguém gordo, “míope”, ou “desastrado"? Estas podem ser características que eu percebo quando lhe vejo pela primeira vez, mas não necessariamente definem quem você é.
Sendo adulto, você tem certo controle sobre como define a si mesmo. Se você quiser ser conhecido por uma característica sua, você consegue fazê-la percebida. Em sendo criança, ainda estou me descobrindo. Nem eu ou você sabemos ainda do que sou capaz. Definir-me por uma de minhas características é incorrer no perigo de se ter expectativas muito pequenas ao meu respeito. E se eu perceber que você não acha que “sou capaz”, minha resposta natural será: “Para que tentar?”

2. Minhas percepções sensoriais são desorganizadas.
Integração sensorial pode ser um dos aspectos mais difíceis para se entender no autismo, mas é, sem dúvida, o mais importante. Significa que todas as visões, sons, cheiros, gostos e toques do dia-a-dia, que talvez você sequer note, podem ser extremamente dolorosos para mim. O próprio ambiente no qual tenho que viver se mostra freqüentemente hostil. Eu posso aparentar estar ausente ou hostil com você, mas eu realmente estou apenas tentando me defender. Aqui está o porquê de uma “simples” ida ao mercado parecer um inferno para mim:
Minha audição pode ser hipersensível. Dúzias de pessoas falando ao mesmo tempo. O auto-falante anunciando as ofertas do dia. O sistema de som toca músicas de fundo. Maquinas fazem ruídos. Caixas registradores apitam e se abrem. O moedor de café se move com ruídos. Os açougueiros fatiam a carne, crianças em pranto, carrinhos rangem, a luz fluorescente fica zunindo! Meu cérebro não consegue filtrar todos estes estímulos e eu fico sobrecarregado.
Meu olfato também pode ser muito aguçado. Sinto o peixe no balcão que não está tão fresco, o homem próximo a nós não tomou banho hoje, o mercado oferece petiscos de salsicha, o bebe à nossa frente sujou a fralda…. Não consigo organizar tudo isto! Tudo isso me deixa extremamente nauseado.
Porque sou visualmente orientado (veja mais sobre isto abaixo), este pode ser meu primeiro sentido a ser super estimulado. A luz fluorescente não é, apenas, clara demais, como chia e zune. O estabelecimento parece pulsar e machuca meus olhos. A luz oscilante bagunça e distorce tudo o que estou vendo – o lugar parece estar mudando constantemente. Há uma claridade na janela, muitas coisas dificultando meu foco (que eu consigo compensar com uma “visão exclusiva”, como um túnel), ventiladores de teto ligados, muitos corpos em constante movimento. Tudo isto afeta meu sistema vestibular e sentidos proprioceptivos, e agora eu nem consigo dizer onde meu corpo se encontra no espaço.

3. Por favor, lembre-se de distinguir “não quero” de “não consigo”. 
Receptividade, linguagem expressiva e vocabulário podem ser grandes desafios para mim. Não é que eu não escute as instruções, é que eu não consigo entender você. Quando me chama do outro lado do quarto, é isto que escuto: “$%$#%#, Billy. %$#%@#$%…”.Em vez disto, fale diretamente comigo com palavras simples: "Por favor, guarde seu livro na prateleira, Billy. É hora de você lanchar”. Assim você me diz o que fazer e o que acontecerá em seguida. Fica bem mais fácil para eu cooperar.

4. Eu penso concretamenteIsto significa que eu interpreto tudo literalmente.
É muito confuso quando você diz “Segura as pontas!” quando o que você quer dizer é “Espere até eu voltar”. Não diga que algo é “mamão com açúcar” quando não há nenhuma sobremesa à vista e o que você está realmente falando é “será fácil para você fazer”. Quando você diz “Jamie realmente queimou a pista”, eu imagino uma criança brincando com fósforos. Por favor, apenas diga “Jamie correu muito rápido”.
Gírias, trocadilhos, nuanças, duplo-sentidos, inferências, metáforas, alusões e sarcasmos não fazem sentido para mim.

5. Por favor, seja paciente com meu vocabulário limitado. 
É difícil dizer para você o que preciso quando eu não conheço as palavras para descrever meus sentimentos. Posso estar com fome, frustrado, amedrontado ou confuso, mas, por enquanto, estas palavras estão além da minha habilidade de expressão. Fique atento para minha linguagem corporal, isolamento, agitação e outros sinais de que algo está errado.
Ou, tem o lado oposto: Posso me expressar como um “pequeno professor” ou estrela de cinema, despejando palavras ou scripts incomuns para meu nível de desenvolvimento. Estas mensagens eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar meus déficits de linguagem, pois sei que esperam que eu responda quando falam comigo. Estes elementos podem vir dos livros, TV, fala de outras pessoas. É conhecido como “ecolalia”. Não necessariamente entendo o contexto ou os termos que estou usando, apenas sei que isto me tira de alguns incômodos por surgir com uma resposta.


Trecho traduzido do livro:
Ten Things Every Child With Autism Wishes You Knew.
By Ellen Notbohm 

Retorno do Blog

Atualização do slogan do grupo


Viver Diferente,
                      mas não desigual


Em oportunidades, em  comunicação, em ir e vir, em saúde e bem estar social, em conhecimento, em direitos humanos e políticos...